Claus A. Corbett
ilustração de Mariana Lio
A arte de escrever é também a arte de vender ideias e, por isso, hoje vamos trabalhar com um gênero textual perfeito para isso: o anúncio. Convencer alguém a lhe dar dinheiro em troca de um serviço ou produto requer exaltar pontos positivos, convencendo a ver a entrega do dinheiro não como um gasto, mas sim como um investimento.
E tudo isso fica mais fácil quando podemos trazer elementos fantásticos e interessantes para nosso texto.
Por isso, vamos fazer um anúncio vendendo algum animal fantástico. A ideia é trazer um toque de humor para um gênero usualmente sério, brincando com os limites e as interseções de diferentes estilos de textos.
Pense em um animal mítico, lendário ou apenas estranho. Escolha um animal que te fascine, algo que chame sua atenção e que, para você, daria um ótimo amigo ou animal de estimação. Trabalhar com algo que gostamos torna este exercício mais fácil e divertido. Pode vir de lendas, de contos de fada ou até mesmo ser um animal que você inventou.
Agora, sente-se confortavelmente, desligue as distrações; se você quiser, coloque música para tocar.
Sua tarefa é escrever um anúncio exaltando as qualidades do animal que você escolheu e tentar convencer outras pessoas a comprá-lo ou adotá-lo - ou um anúncio que te convenceria a comprá-lo. Pense em anúncios que você já leu de animais, considere o que torna o seu mais interessante e diferente. Pense em coisas que podem diferenciar também o seu anúncio dos anúncios normais.
Por exemplo: pessoas tentando vender um cachorro usualmente falarão de qualidades como pureza da raça, pedigree, sobre os pais do animal. No caso do animal que você escolheu, essas informações fariam sentido ou teriam qualquer significado? Ou outras coisas seriam mais importantes?
Você pode descrever os hábitos desse animal, suas peculiaridades e necessidades especiais, sua personalidade e até mesmo benefícios mágicos. Deixe a ideia desse animal invadir sua mente e escreva sobre tudo que quiser. Você pode adequar a linguagem que usa de acordo com a origem do animal ou até mesmo escrever como alguém que o encontrou por acaso, sem saber de onde ele vem. Siga sua criatividade!
Em seguida, há um exemplo de anúncio de venda de um animal não convencional. Você pode usar isso como inspiração ou deixar para lê-lo depois de escrever o seu, como preferir.
Tô vendendo cabra da peste
Claus A. Corbett
Só to vendendo porque to aperreado¹ mesmo, que essa cabra é arretada. Solta fogo pelas venta, que ajuda na hora de fazer o almoço. Num come quase nada, só uns gato do vizinho, então você guarda a grama pras que dão leite tamém. Tem uns óio vermeio que ajuda a achar no meio do mato. Já serve de cão de guarda também que ninguém chega perto da casa mais e se arrudiar² o terreno jogando sal grosso ela num foge. E ela é zambeta,³ mas corre muito, visse? Tem inhaca de deixar ariado,⁴ mas é fácil dar banho, é só esquentar a água. Às vezes, ela fica olhando você dormir na rede, mas num faz nada. Num pode acorrentá que ela fica braba, mas deixa uma garrafinha com rolha perto que às veiz os parente dela vem visitar. Tô cobrando barato, só um filho e já pode levar e entrego até na baixa d’égua,⁵ e dispenso curioso, então só manda mensagem cabra interessado, senão pega o beco.⁶
¹ Em dificuldades.
² Cercar, rodear.
³ De pernas tortas.
⁴ Desnorteado, sem rumo.
⁵ Lugar muito distante.
⁶ “Cai fora”.
Proposta de exercício criativo publicada na edição 1 — experiência criativa da revista Alcateia.
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