Julia Helena de Oliveira
Claus A. Corbett
Ler, para quem vê de fora e não é tão acostumado, pode parecer um ato de relaxamento, uma tentativa de ser mais culto e conhecer mais coisas. Em algumas ocasiões, pode até ser isso ou simplesmente de se entreter, mas sabemos que ler também é sofrer, passar raiva; pode ser doloroso e até frustrante.
Quando entramos no papel de leitores, a todo momento somos postos à prova a certos inimigos, tais como a ressaca literária — após uma leitura muito impactante, é difícil começar outra imediatamente — a preguiça de começar um livro muito longo ou com muitas continuações, além da vontade incontrolável de comprar novos livros, mesmo sabendo que há vários nunca antes tocados em casa. Entretanto, nada como a sensação de ser enganado pelo autor para sentirmos o que é mesmo um adversário da leitura. Isso acontece desde a criação de grandes expectativas por comentários alheios (para depois nos decepcionarmos terrivelmente) ou até esperar pouquíssimo de uma história (e ser presenteado com algo completamente inesperado).
Não podemos negar que às vezes essa quebra de expectativas é algo muito positivo quando seguimos um caminho impremeditável, longe do lugar comum em que associamos a certos tipos de personagens e ambientações. Muitas vezes, o gênero e a premissa já parecem entregar tudo. Por exemplo, quando lemos uma história que se passa no futuro, logo esperamos uma distopia e um pós-apocalipse. Depois da popularização dos livros vampirescos, é só aparecer um para esperarmos um romance (e um triângulo amoroso). Portanto, prepare-se para criar algo inesperado!
Você pretendia apenas ler um texto sobre leitura? Bom, quebra de expectativas. No Textando desta edição, convidamos e desafiamos o leitor a criar algo imprevisível.
Há diversos elementos que tornam um texto inesperado, como a apresentação ou retorno de personagens, uma ambientação que não pareça comum às primeiras cenas, elementos visuais que destoam do conteúdo narrativo, qualquer plot twist que saiba entregar pistas, mas não o bastante para que o mistério seja resolvido.
Abaixo, você encontrará uma lista com diversas situações, algumas comuns e outras um tanto bizarras. Escolha um número de 1 a 15 ou simplesmente procure por uma opção que te agrade e chame sua atenção. A intenção é usar a premissa escolhida e produzir algo a partir dela tendo como objetivo subverter as expectativas que são criadas pelo cenário. Você também pode usar uma premissa que não esteja na lista — deixe sua criatividade fluir!
Por exemplo, torne dramática uma situação cômica, satirize algo que pareça sério ou perigoso, desenhe um animal perigoso em uma situação fofinha. Invista em algo que o leitor não seja capaz de adivinhar o desfecho por vir, divirta-se com as possibilidades. Lembrando que a forma é livre! Você pode criar em prosa ou poesia, produzir uma ilustração ou uma hq e quem sabe até criar uma música que mude completamente de estilo no meio de seu trajeto.
1. Um serial killer seguindo um grupo de estudantes.
2. Duas senhorinhas tricotando.
3. Um homem e uma mulher se encontram numa festa longe de conhecidos.
4. Uma mulher cuida de seu jardim no quintal.
5. Um jovem acorda em uma sala estranha, sem memórias de como chegou lá.
6. Um casal vestindo roupas de casamento num carro.
7. Uma viagem que termina em um lugar inesperado.
8. Uma criança brincando na caixa de areia.
9. Dois peixes se perseguem em um aquário.
10. Alguém sentado em um cubículo preenche planilhas.
11. Uma garota escalando um rochedo com alguém subindo atrás dela.
12. Uma mulher derruba uma sacola com vidros de líquido vermelho e cheiro forte.
13. Uma criança conversando com o espelho e rindo.
14. Um idoso olha para as revistas na banca de jornal.
15. Um homem escuta uma voz; ao virar-se, há apenas um gato.
16. Uma senhora anda com o carrinho de compras do supermercado na rua.
Proposta de exercício criativo publicada na edição 7 — tempo da revista Alcateia.