Mariana Lio
“Cidade dorme”
“Assassinos, acordem. Quem vocês querem matar?”
Jogos são imprevisíveis. Vocês conhecem o jogo “Cidade Dorme”? Eu o conheço por vários nomes: Máfia, Detetive, Cidade Dorme, Assassino, Vila Dorme… O princípio do jogo é que enquanto a cidade dorme, assassinos, anjos e detetives acordam e, respectivamente, cometem crimes, salvam vítimas e investigam jogadores.
O narrador do jogo é onisciente. É aquele que determina quem serão os personagens e coordena o ritmo de cada partida, acordando e colocando para dormir os participantes. Por mais que tenha os resultados ditados pelos personagens, quem narra tem total liberdade em detalhar a história que contará à cidade quando todos acordarem.
“Cidade, pode acordar.
Bom dia, meus caros cidadãos. Hoje, infelizmente, nossos índices de violência aumentaram durante a noite…”
Trabalhamos a edição com a imprevisibilidade dos jogos e não saber o resultado é uma de suas principais características. Porém, aqui, em uma investigação, temos o contrário. O que aconteceu já aconteceu e o que está incompleto agora é como aconteceu. É como se tivéssemos um momento presente sem qualquer passado explicável. O crime, presente, já sabemos. Mas o que aconteceu? E o passado?
“É, cidade… sabem como isso foi acontecer?”
Vendo por essa perspectiva, o que é imprevisível não é o final, o resultado, mas sim o começo da narrativa! Dessa forma, gostaria de propor no Textando desta edição que você se coloque nessa brincadeira e trame como foi a noite da Cidade Dorme, refazendo e, de certa forma, fazendo os passos dos personagens.
Em primeiro lugar, determine se houve alguma vítima ou não. Tenha bem fixado em sua mente o resultado final do crime. A partir daí, produza algo, seja um desenho, uma narrativa, uma dança, a partir da reação final. Onde aconteceu, quem era a vítima, se foi encontrada alguma arma, qual o caminho para a cena do crime… Inverta a ordem cronológica da narrativa e chegue em um início inexplicável, surpreendente, imprevisível. Produza com a ideia trabalhada de trás para frente!
Para que estejamos todos alinhados, os assassinos só conseguem tirar uma pessoa da rodada por vez, por isso, se não houve nenhuma vítima, o anjo conseguiu salvar o jogador. Se houve, os assassinos ganharam a rodada. Não há restrições de qual personagem pode ser eliminado ou não da rodada, da mesma forma que o anjo pode salvar a si mesmo. Os personagens do jogo são: dois assassinos, um anjo, um detetive e as pessoas da cidade, sem número determinado.
E aí, cidade, como isso foi acontecer?
Proposta de exercício criativo publicada na edição 6 — ludicidade da revista Alcateia.
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