Equipe Alcateia
ilustração de Mariana Lio
Vida de estrela de cinema - ou de novela - é cheia de oportunidades, dinheiro e reconhecimento. Vida de pintor, às vezes, é cheia de arrependimentos e falta de reconhecimento, até que a morte torne cânone sua arte - ou, às vezes, há fama em um nicho muito específico, mas o cidadão comum mal sabe quem você é. Vida de escritor é fazer diversas turnês de divulgação, escrever várias sequências e ter seu próprio following para fazer cosplay nos eventos dedicados à sua obra. Vida de rockstar é só drogas, bacanais, pactos com o diabo - ou isso acabou nas décadas de 1980 e 1990? Talvez, hoje em dia, só cantor solo que saiu de boy band ou divas do pop façam sucesso. Ainda assim, tem aí muito dinheiro e glamour.
Em algum momento, parece que decidimos coletivamente que a vida dos artistas é uma vida de fama e adoração e passamos a definir a arte pelo volume das palmas que recebe. Sendo assim, arte que não é reconhecida - ou arte que não se adequa a padrões ditados pelos estabelecidos - não é arte, ou é até “arte demais” por ser inacessível. Bom, a não ser que você seja outsider o suficiente para conseguir reconhecimento suficiente. E outros artistas seguem, então, esmagados pela síndrome do impostor, achando que todo seu talento, sua prática e sua dedicação não têm valor. Sem reconhecer que viver de arte nem sempre é viver a arte. Sem se aceitar como artista, até que alguém venha e lhe dê esse rótulo. Mas...
As vidas de atores de teatro popular, por vezes, são cheias de correria, contas para pagar e aplausos à peça, mas sem que muitos saibam seus nomes. As vidas de artistas visuais podem ser só uma sucessão de prazos para fechar ilustrações para clientes que não batem em nada com o que gostamos de criar - mas, também, ser um amorzinho que flui em nossa direção pelo Twitter ou pelo Instagram. As vidas de escritores, de vez em quando, acabam sendo balancear os trabalhos que “pagam as contas” e o sonho de criar universos inteiros de sentido, de conhecimento, de personagens maravilhosos com vida própria. As vidas de músicos, em certas ocasiões, acabam sendo atropeladas pelas necessidades concretas da vida em uma sociedade capitalista - em outras, podem ser a constante busca por oportunidades de repetir as palavras e melodias de outrem em barzinhos da moda.
Há uma linha difusa entre aceitar que a sua arte tem valor e achar que seu valor é maior do que o do outros por causa disso e a vida do artista segue sendo apenas a arte de viver dançando sobre ela.
Texto de abertura da edição 4 — vida de artista da revista Alcateia.
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